Imigração e reunião extraordinária da União Europeia

A União Europeia organizará uma reunião de urgência com os ministros do Interior e Negócios Estrangeiros por causa do naufrágio da embarcação que transportava 700 imigrantes no Mediterrâneo, no Canal da Sicília, a 60 milhas da Líbia. Segundo a Agência Lusa, a reunião foi sugerida pelo presidente francês François Hollande, que "afirmou que esta pode vir a ser uma das "maiores catástrofes" dos últimos anos no Mediterrâneo, caso se venha a confirmar o balanço provisório de vítimas." Também o primeiro-ministro Matteo Renzi pediu esta reunião, que deverá ocorrer amanhã em Luxemburgo. O Papa Francisco também pediu uma ação rápida, afirmando que "São homens e mulheres como nós. Irmãos que procuram uma vida melhor. Têm fome, são perseguidos, estão feridos, são explorados e são vítimas de guerras que procuram uma vida melhor procurando a felicidade", segundo noticiou o 'Jornal de Notícias' de Portugal, hoje.

Com a incapacidade da Guarda Costeira italiana de atender de imediato o pedido de resgaste, um navio português efetuou o salvamento dos 28 sobreviventes. Malta e Itália trabalham nas buscas, deste que é mais um acidente grave do mesmo tipo na mesma semana, no que vem sendo uma rotina de desastre humanitário. A ONG 'Save the Children' e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertou na última terça-feira que um barco que também vinha da Líbia com 550 pessoas afundou, e apenas 144 pessoas foram resgatadas. Segundo os sobreviventes, a maioria vinha da África Subsaariana.

Como temos chamado a atenção, a responsabilidade final por essas tragédias é dos próprios países europeus. Responsabilidade tripla, por sinal. Se há algumas pessoas que emigram por que se identificam mais com um país ou por prazer, não é o caso destes emigrantes da fome e da miséria. Emigram por não terem futuro. Na verdade, por não terem nem mesmo um presente em seus países. E, isto é, primordialmente, responsabilidade dos países europeus e dos EUA. No primeiro caso, como ex-metrópoles, e que somados ao segundo, estes mantêm de forma propositada a instabilidade e o atraso, com o apoio às piores ditaduras possíveis e no estímulo às guerras civis e étnicas, seja para terem facilitados o acesso às matérias-primas e outras riquezas naturais, seja por razões geopolíticas, tornando a vida dos africanos miserável e trágica. As potências europeias e os EUA construíram o atraso e o subdesenvolvimento, agora tem que arcar com as consequências. Mas, como sempre, as vítimas são os mais pobres, as crianças e mulheres.

 A União Europeia é responsável, em segundo lugar, por se transformar numa fortaleza e impedir a imigração de suas vítimas históricas, levando a que estas não tendo uma vida em seus países ainda tenham que morrer tentando alcançar as costas europeias. E, em terceiro lugar, por que a ação desestabilizadora e criminosa, com a invasão que fizeram à Líbia, submergindo o país numa guerra civil interminável, criou uma terra de ninguém, onde aproveitadores - como os 'coiotes' mexicanos - lucram com o tráfico perigoso destes pobres miseráveis.

 Se a União Europeia não fosse o que é, um comitê das elites contra seus povos, e tivesse minimamente um compromisso humanitário como afirma ter, receberia os imigrantes que criou e lhes daria um futuro digno, enquanto devolveria ao menos uma parte da riqueza que saqueou em sua acumulação permanente de riqueza e ajudaria no desenvolvimento desses países. Um primeiro passo seria parar de, por trás das câmaras onde posam de bons moços, apoiar as ditaduras e bandos armados que espalham terror. Contudo, isso é esperar demais deles. A saída será, como sempre, fechar ainda mais a Europa. Para estes senhores, o único caminho é converter a Europa num grande castelo amuralhado. Esquecem, no entanto, que os "bárbaros" que eles criam todos os dias no resto do mundo conseguirão, mais dia ou menos dia, derrubar essas muralhas. O Império Romano também se acreditava invencível. Não era.

Foto: Manifestação de imigrantes em 2009, em Lisboa. Fonte: Esquerda.net.

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