Pablo Iglesias não é favorável ao direito catalão pela dependência

Em entrevista, que traduzo trechos abaixo e disponibilizo ao final o link, o líder do Podemos, se utilizando de uma linguagem "diplomática", diz ser contra o direito de decidir dos catalães. Pois, ao afirmar a impossibilidade jurídica, nos marcos da Constituição do Reino Espanhol, reafirmando assim o direito do ocupante e que foi pactada para manter o cerne do regime franquista, ele realiza três coisas: a) coloca a constituição como um facto da "natureza", pois a considera imutável; b) ele se desobriga a assumir uma posição, retira sua obrigação, como se não pudesse assumir o compromisso político de mudança - afinal, se ele se afirma a mudança em outros campos, porque não neste ?; c) rejeita um dos maiores princípios democráticos e da esquerda mundial, que é o inalienável direito à autodeterminação dos povos.


Sobre outro ponto da entrevista. O Corredor Mediterrâneo é um trajeto que ligaria a costa oeste do Estado Espanhol ao resto da Europa. A polêmica se remete ao traçado proposto por Madrid, que ao invés de seguir por toda a costa depois de Barcelona faria um arco até a capital do Estado Espanhol e voltaria então à Costa. Um traçado completamente antieconômico e que aumentaria os custos e tempos de viagem, mas que manteria a insólita situação das precárias ligações férreas diretas entre Barcelona e Valência (também parte dos Países Catalães). A estrutura férrea principal no país centraliza-se e volta-se para a Madrid, de forma a refletir e manter a centralização do país e o domínio sobre seus povos.

Sua incapacidade de se posicionar sobre qualquer coisa alcança o auge ao não se posicionar nem mesmo sobre a "polêmica" Messi e Cristiano Ronaldo!


Podemos está a favor do Corredor Mediterrâneo?

 - Não saberia o quê responder-lhe [...]

Porém, Catalunya seria como o País Basco?

 - Não sei se a fórmula consiste em parecer-se com o País Basco, porém aí há que haver flexibilidade na hora de estabelecer as competências em matéria econômica [...]




Aceita um referendo de independência da Catalunya?

 - [...] Não depende de mim aceitá-lo.

Não se faça de político da casta, aceita um referendo?

- [...] Não depende de mim. [...]

Porém você possui as suas convicções, não? 

- Está bem que os catalães se posicionem [...] é inviável juridicamente.

Sim, isto eu entendi, porém volto-lhe a perguntar, você aceita um referendo na Catalunya, SIM ou NÃO?

- Quando se faz uma pergunta não se dão as opções de resposta, se escuta a resposta de quem responde. A resposta é: é inviável juridicamente. [...] Para escutar a entrevista toda, em castelhano, clique aqui.

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Carlos Serrano Ferreira

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IV Conferência Dia da Europa

Na Casa Europa, antiga Maison de France, no Rio de Janeiro, ocorrerá no dia 11 de maio uma Conferência sobre "A União Europeia e os desafios do desenvolvimento sustentável". A inscrição é gratuita, e mais informações podem ser vistas clicando aqui.

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Carlos Serrano Ferreira

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ANTI-OTAN?

Estreou em Moscou uma coalizão sino-russo-iraniana contra a OTAN?

Por Mahdi Darius Nazemroaya

Traduzido do inglês por Carlos Serrano Ferreira



A Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional, em abril, foi usada como local para comunicar aos EUA e OTAN que outras potências mundiais não os deixarão fazer o que quiserem.

As conversações sobre esforços conjuntos entre China, Índia, Rússia e Irã contra a expansão da OTAN foram ampliadas com os planos para conversações militares tripartites entre Pequim, Moscou e Teerã.

Ministros da Defesa e oficiais militares de todo o mundo reuniram-se em 16 de abril, em Radisson Royal ou Hotel Ukraina, uma das melhores peças de arquitetura soviética em Moscou, conhecida como uma das “Sete Irmãs”, construídas durante o período de Josef Stalin. O evento de dois dias, organizado pelo Ministério da Defesa russo, foi a quarta Conferência Anual de Moscou sobre Segurança Internacional (MCIS).

Autoridades civis e militares de mais de setenta países, incluindo membros da OTAN, compareceram. Quinze ministros da Defesa participaram do evento. No entanto, além da Grécia, demais ministros da Defesa dos países da OTAN não participaram da conferência.

Ao contrário de anos anteriores, os organizadores MCIS não enviaram um convite à Ucrânia. De acordo com o vice-ministro da Defesa russo Anatoly Antonov, “nesta etapa de brutal antagonismo nas informações em relação à crise no sudeste da Ucrânia, decidimos não inflamar a situação na conferência e, nesta fase, tomamos a decisão de não convidar nossos colegas ucranianos para o evento”.

Em uma nota pessoal, como um assunto de interesse, tenho acompanhado esses tipos de conferências há anos, porque declarações importantes sobre política externa e de segurança tendem a sair deles. Este ano eu estava ansioso pelo início desta conferência de segurança em particular. Afora estar ocorrendo em um momento onde a paisagem geopolítica do mundo está mudando rapidamente, eu estava interessado em ver o que a conferência iria produzir, uma vez que me perguntaram em 2014, através da Embaixada da Rússia no Canadá, se eu estava interessado em participar da IV MCIS [na sigla em inglês].

O restante do mundo fala: ouvindo as preocupações de segurança não-euroatlânticas

A conferência de Moscou é o equivalente russo à Conferência de Segurança de Munique, realizada no Hotel Bayerischer Hof, na Alemanha. Há, no entanto, diferenças essenciais entre os dois eventos. Enquanto a Conferência de Segurança de Munique é estabelecida em torno da segurança euroatlântica e vê a segurança global do ponto de vista "atlantista" da OTAN, o MCIS representa uma perspectiva global muito mais ampla e diversificada. Ela representa as preocupações de segurança do restante do mundo não-euroatlântico, particularmente do Oriente Médio e da Ásia-Pacífico. Abrangendo desde Argentina, Índia e Vietnã até o Egito e África do Sul, a conferência no Hotel Ukraina trouxe uma variedade de grandes e pequenos atores à mesa, cujas vozes e interesses de segurança são de uma maneira ou outra minados e ignorados em Munique por líderes dos EUA e da OTAN.

O Ministro da Defesa russo Sergey Shoigu, que detém a patente de um oficial-general equivalente a de um general de quatro estrelas na maioria dos países da OTAN, abriu a conferência. Também falando e sentados juntos a Shoigu estavam o Ministro do Exterior russo Sergey Lavrov e outros funcionários de alto escalão. Todos eles abordaram a guerra multiespectral de Washington, que tem se utilizado para a mudança de regime de revoluções coloridas, como o EuroMaidan na Ucrânia e a Revolução das Rosas na Geórgia. Shoigu citou Venezuela e a Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong como revoluções coloridas falhadas.

O Ministro do Exterior Lavrov lembrou aos participantes que as possibilidades de um perigoso conflito mundial são crescentes, devido à falta de preocupação dos EUA e OTAN pela segurança dos outros e a ausência de diálogo construtivo. Quando estava a  argumentar, Lavrov citou o presidente estadunidense Franklin Roosevelt, dizendo: “Não pode haver meio termo aqui. Teremos de assumir a responsabilidade para a colaboração mundial, ou teremos de arcar com a responsabilidade de outro conflito mundial.” “Eu acredito que eles formularam uma das principais lições do conflito global mais devastador da história: só é possível enfrentar desafios comuns e preservar a paz através do coletivo, de esforços conjuntos baseados no respeito pelos interesses legítimos de todos os parceiros”, explicou sobre o que os líderes mundiais aprenderam com a segunda Guerra Mundial.

Shoigu teve mais de dez reuniões bilaterais com os diferentes ministros da Defesa e chefes que chegaram em Moscou para a MCIS. Durante uma reunião com o Ministro da Defesa sérvio Bratislav Gasic, Shoigu disse que Moscou considera Belgrado um parceiro confiável na cooperação militar.

Coalizão sino-russo-iraniana: pesadelo de Washington

O mito de que a Rússia está internacionalmente isolada foi derrubado novamente durante a conferência, que também resultou em alguns anúncios importantes.

O Ministro da Defesa cazaque Imangali Tasmagambetov e Shoigu anunciaram que a implantação de um sistema conjunto de defesa aéreo cazaque-russo tinha começado. Este não é apenas um indicativo da integração do espaço aéreo da Organização do Tratado de Segurança Coletiva [(OTSC)], mas parte de uma tendência. Foram feitos outros anúncios contra o escudo de defesa antimísseis da OTAN.

A declaração mais vigorosa, no entanto, foi a do Ministro da Defesa iraniano Hussein Dehghan. O General de brigada Deghan disse que o Irã queria China, Índia e Rússia permanecendo unidos na oposição conjunta à expansão para o leste da OTAN e à ameaça para a sua segurança coletiva representada pelo projeto de escudo antimísseis desta aliança.

Durante uma reunião com o Ministro da Defesa chinês Chang Wanquan, Shoigu enfatizou que os laços militares de Moscou com Pequim são a sua “prioridade absoluta”. Em outra reunião bilateral os chefes de defesa do Irã e da Rússia confirmaram que a sua cooperação será parte dos pilares de uma nova ordem multipolar e que Moscou e Teerã estavam em harmonia na sua abordagem estratégica em relação aos EUA.

Após Dehghan e a delegação iraniana se reunirem com Shoigu e os seus homólogos russos, foi anunciado que uma cimeira tripartite pode ocorrer entre Pequim, Moscou e Teerã. A idéia foi posteriormente endossada pela delegação chinesa.

O ambiente geopolítico está mudando e não é nada simpático aos interesses estadunidenses. Não somente uma União Econômica Eurasiana foi formada pela Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia no coração pós-soviético da Eurásia, mas Pequim, Moscou e Teerã – aTríplice Entente Euroasiática – estão em um longo processo de aproximação política, estratégica, econômica, diplomática e militar.

A harmonia e a integração eurasiana desafia a posição dos Estados Unidos em seu “quintal ocidental” e em sua cabeça-de-ponte na Europa e ainda orienta aliados dos EUA a agir de forma mais independente. Este é um dos temas centrais exploradas por meu livro A Globalização da OTAN.

O ex-mandachuva de segurança dos EUA, Zbigniew Brzezinski, advertiu as elites estadunidenses contra a formação de uma eurasiana “coalizão que poderia, eventualmente, procurar contestar a primazia dos Estados Unidos". De acordo com Brzezinski tal aliança  eurasiana surgiria como uma "coalizão sino-russo-iraniana" com Pequim como seu ponto focal.

"Para os estrategistas chineses, confrontando a coalizão trilateral da América, Europa e do Japão, o mais eficaz contrapoder geopolítico poderia muito bem ser tentar e moldar uma tríplice aliança própria, ligando China com o Irã na região do Golfo Pérsico/Oriente Médio e com a Rússia na área da antiga União Soviética", Brzezinski adverte.

"Ao avaliar as futuras opções da China, deve-se considerar também a possibilidade de que uma China economicamente bem sucedida e politicamente autoconfiante – mas que se sente excluída do sistema global e que decide se tornar o advogado e líder dos Estados carentes do mundo – pode decidir apresentar não só uma doutrina articulada, mas também um poderoso desafio geopolítico para o mundo trilateral dominante", explica.

Mais ou menos, essa é a trilha que os chineses estão a seguir. O Ministro Wanquan categoricamente disse no MCIS que era necessária uma ordem mundial justa.

A ameaça para os EUA é que uma coalizão sino-russo-iraniana poderia, nas palavras do próprio Brzezinski, "ser um ímã poderoso para outros Estados insatisfeitos com o status quo."

Contrapondo o escudo antimísseis dos EUA e OTAN na Eurásia

Uma nova "Cortina de Ferro" está sendo erigida por Washington em torno da China, Irã, Rússia e aliados através da infra-estrutura de mísseis dos EUA e da OTAN. Esta rede de mísseis é ofensiva e não defensiva em intenção e motivação.

A meta do Pentágono é neutralizar quaisquer respostas defensivas da Rússia e outras potências da Eurásia a um ataque estadunidense com mísseis balísticos, que poderia incluir um ataque nuclear inicial. Washington não quer permitir que a Rússia ou  outros tenham a capacidade de um segundo ataque ou, em outras palavras, ter a capacidade de responder a um ataque pelo Pentágono.

Em 2011, noticiou-se que o Vice-Primeiro-Ministro russo, Dmitry Rogozin, então enviado de Moscou para a OTAN, estaria visitando Teerã para falar sobre o projeto de escudo antimísseis da aliança atlântica. Diversas notícias foram publicadas, inclusive pelo Tehran Times, alegando que os governos da Rússia, Irã e China estavam a planejar a criação de um escudo antimísseis comum contra os EUA e a OTAN. Rogozin, no entanto, refutou as notícias. Ele disse que a defesa de mísseis foi debatida entre o Kremlin e seus aliados militares da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC).

A idéia de cooperação em defesa entre a China, Irã e Rússia contra o escudo antimísseis da OTAN manteve-se à tona desde 2011. Desde então, o Irã se torna mais próximo de se converter em observador na OTSC, tal como já são o Afeganistão e a Sérvia. Pequim, Moscou e Teerã se aproximaram todos também devido a questões como a Síria, o EuroMaidan e o “Pivô para a Ásia” do Pentágono. Deghan apela a uma abordagem coletiva de China, Índia, Irã e Rússia contra o escudo antimísseis e a expansão da OTAN juntamente com os anúncios nos MCIS sobre conversações militares tripartites entre China, Irã e Rússia apontando nesse sentido também.

Os sistemas de defesa aérea S-300 e S-400 da Rússia estão a ser implantados em toda a Eurásia, da Armênia e Bielorrússia a Kamchatka como parte de um contramovimento de última geração à nova "Cortina de Ferro". Estes sistemas de defesa aérea fazem os objetivos de Washington de neutralizar a possibilidade de uma reação ou segundo ataque muito mais difícil.

Mesmo responsáveis da OTAN e do Pentágono, que se referiram tanto ao S-300 como ao sistema SA-20, admitem isso. “Nós estudamos e treinamos para combater isso há anos. Apesar de não termos medo dele, nós respeitamos o S-300 enquanto o que é: um sistema de mísseis muito móvel, preciso e letal”, escreveu o Coronel da Força Aérea dos EUA Clint Hinote para o Conselho de Relações Exteriorescom sede em Washington.

Muito embora se tenha especulado que a venda dos S-300 ao Irã marcaria o início de uma bonança de vendas internacionais de armas em Teerã, como resultado das conversações de Lausanne, e que Moscou está tentando ter uma vantagem competitiva em um mercado iraniano que se reabre, na realidade a situação e as motivações são muito diferentes. Mesmo que Teerã compre diferentes quantidades de equipamento militar da Rússia e de outras fontes estrangeiras, tem uma política de auto-suficiência militar e fabrica principalmente suas próprias armas. Toda uma série de equipamentos militares – que vão desde tanques, mísseis, aviões de combate, detectores de radar, rifles e drones a helicópteros, torpedos, morteiros, navios de guerra e submarinos – são feitos domesticamente no Irã. As forças armadas iranianas ainda alegam que seu sistema de defesa aérea Bavar-373 é mais ou menos o equivalente ao S-300.

A entrega de Moscou dos S-300 para Teerã é mais do que apenas um negócio despretensioso. Destina-se a cimentar a cooperação militar russo-iraniana e de reforçar a cooperação eurasiana contra o cerco pelo escudo antimísseis de Washington. É mais um passo para a criação de uma rede eurasiana de defesa aérea contra a ameaça de mísseis colocada pelos EUA e a OTAN contra nações que se atrevem a não se ajoelhar à Washington.




Este artigo foi publicado originalmente em inglês na RT, em 23 de abril de 2015. A reprodução da tradução ao português publicada aqui é livre para fins não comerciais, contanto que se cite a fonte da mesma e o tradutor, bem como a fonte original.

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Carlos Serrano Ferreira

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Alemanha: poder alemão cresce na Europa.

Como vimos apontando em palestras e artigos, a hegemonia alemã na Europa vem crescendo desde a entrada em cena do Euro, e em particular com a atual crise e as políticas de austeridade impostas por Berlim. O domínio econômico é evidente, mas o crescimento de sua preponderância nos organismos da União Europeia e sua remilitarização colocam um cenário onde o perigo alemão é crescente.

A integração europeia se converteu, a partir das alterações com Maastricht e, em particular com o Tratado de Lisboa, num espaço de ampliação e consolidação da hegemonia germânica. Os recentes governos alemães tem conseguido impor uma supremacia sobre o continente - até agora sem dar um tiro. Conseguem assim o que o Kaiser, na I Guerra Mundial, e Hitler, na II Guerra Mundial, não conseguiram com as forças das armas. A euroburocracia e a força financeira tem sido mais eficientes que o exército nessa tarefa. As expansões da União Europeia à Leste, sobre a antiga área de influência soviética, ainda que contrabalançada com a presença de países ligados mais à Washington, como Polônia e Romênia, tem sido uma ofensiva alemã, reconquistando antigas áreas de influência do velho Reich. A criação de um protetorado 'europeu' na Bósnia aponta o sombrio significado dessa política. As condicionalidades draconianas impostas à entrada dos novos países, como o fechamento dos centenários estaleiros croatas, serve à construção da dependência dos países do Leste, enquanto os recursos para os países do Sul que aderiram nos anos 80 à então CEE minguam, afinal o seu objetivo de construir as infraestruturas da dependência já foram cumpridas. O bloqueio à entrada da Turquia na UE não é apenas pelo medo - comungado pela população alemã e pelas elites - do crescimento da já grande comunidade turca no país e da 'islamização' da Europa e do país, mas relaciona-se ao poder político na votação no Conselho Europeu, pois com sua população de mais de 75 milhões passaria a ser o segundo país neste critério na União Europeia, atrás apenas da Alemanha, e teria assim uma enorme capacidade de contrabalançar o poder alemão nas votações.

A verdade é que a colonização da antiga Alemanha Oriental, que possibilitou o rebaixamento salarial e o enfraquecimento dos poderosos sindicatos alemães, permitiu o fortalecimento financeiro do país e consolidou a conversão do espaço comum europeu em plataforma de exportação teutônica. Não é por acaso que o Banco Central Europeu é em Frankfurt...

A intervenção clara da Alemanha na Europa em todos os assuntos é claríssima. Atua para reforçar a austeridade, como mecanismo de reforçar a dependência desses países. E, na principal crise política atual, a ucraniana, tem papel ativo através da intervenção do 'partido alemão' na Ucrânia, o UDAR de Wladimir Klitschko, atual prefeito de Kiev. Este partido foi construído pela CDU de Merkel e seus quadros formados pela Fundação Konrad Adenauer. É também claríssima a aliança da Alemanha com o atual presidente ucraniano, Petro Poroshenko e seu partido Bloco Petro Poroshenko. Não foi por acaso que o UDAR concorreu com seus candidatos nas listas do Bloco.

Mas, quero chamar a atenção para dois elementos: o crescimento dos gastos militares alemães e o aumento do peso alemão nos cargos de direção da União Europeia. A partir da base de dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) pode se ver como, após uma queda entre 1991-1997, desde 1998 o gasto militar alemão vem crescendo, com grande força a partir de 2007 e ultrapassando em 2012 os gastos pré-unificação e do período da Guerra Fria, inclusive em meio à crise que se abateu sobre a Europa.


Ainda mais revelador é a pesquisa do think thank belga Bruegel, que disponibilizou um interessante artigo em seu blog, no dia 13 de abril, do pesquisador Allison Mandra, intitulado Measuring Political Muscle in European Union Institutions - which country holds the highest number of top posts in the EU institutions? (disponível aqui) e que mostra o crescente peso alemão nas instituições europeias a partir da crise econômica. Apesar de algumas lacunas, como não contabilizar algumas entidades como o Banco Central Europeu, a Corte de Justiça, entre outras, é extremamente clarificadora. Se em 1999 e em 2009, a Alemanha era a segunda em número de nacionais nas principais posições na Comissão Europeia e no Parlamento Europeu, passou a ter a primeira posição em 2015. Em 1999 possuía 16 entre os principais cargos, passando a 18 em 2009 e 23 em 2015. Se lembrarmos que entre 1999 e 2015 houve a adesão de mais treze países, ver-se-á que o crescimento de seu peso foi ainda maior. Em particular nota-se a queda França, que em 2009 possuía 19 cargos e caiu para 12 em 2015. Isto é ainda mais perceptível se virmos a evolução da porcentagem da França, de 16,8% em 2009 para 8% em 2015, enquanto a Alemanha possui agora 15,4%.

Esta discrepância entre a Alemanha e a França é relevada por Jean Quatremer num artigo para Liberátion, sintomaticamente intitulado, La France, de plus en plus étrangère à l'Europe (disponível aqui). Em certo trecho ele aponta que "Desde Jacques Delors, que deixou a presidência da Comissão em Dezembro de 1994, e Jean-Claude Trichet, que saiu do Banco Central Europeu no final de 2011, os franceses já não detêm cargos executivos no seio da União, fora o comissário garantido pelos Tratados. Um sintoma e um símbolo." (Tradução nossa). Ele chega a ser irônico ao falar que "O Parlamento Europeu é agora de fato a terceira câmara do Bundestag [Parlamento alemão] de tanto que os alemães são onipresentes." (Tradução nossa).

A posição geopolítica alemã, em particular a partir da tragédia da reunificação, cria inevitavelmente a necessidade do expansionismo teutônico. Hoje ainda de forma econômica e política, mas num futuro, quando os conflitos interimperialistas se aguçarem até o limite, também militarmente. O que garantiu a pacificação na Europa e da Alemanha foi a existência da Guerra Fria, que sufocou as pretensões das potências europeias (fora uns esperneios gaullistas) e a divisão do país. O restabelecimento de condições similares ao período pré-Guerra Fria permite o reerguimento alemão, agora claramente a única potência com capacidade de disputar o grande jogo mundial, onde se apresentam os EUA, a Rússia e a China. Seu atraso militar pode ser suprido com rapidez, pois possui a base tecnológica e econômica para isso. Se os rumos na União Europeia permanecerem os atuais, essa rota da Alemanha rumo à disputa pela supremacia mundial seguirá. Por isso, não se pode perder de vista, como tenho sempre dito, que o perigo alemão não pára de crescer... Como o japonês, mas esta é uma outra história.

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Carlos Serrano Ferreira

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